Páginas

sábado, 18 de junho de 2016

Uma história de resistência.

O negro Brasil que nega ser negro: Uma história de resistência.
Tales Pita
Pós graduando em Educação e diversidade Ético-Cultural – Uesb
Historiador e Educador Social

O dicionário define resistência como ato ou efeito de resistir; Força que se opõe a outra, que não cede. Eu acrescento: é ser negro no Brasil. Afirmo isso, pois nosso racismo é o mais cruel, é politicamente incorreto, onde o racista só se surpreende com o racismo do outro. No Brasil, até quem se coloca contra certas atitudes racistas, não sabe ou finge não saber, como o racismo age. Racismo é um sistema de opressão que nega direitos, vai além de ofensas. Segundo o Kabengele Munanga, antropólogo, Doutor em Ciências Sociais, “o racismo, no Brasil, é um crime perfeito porque quem o comete acha que a culpa está na própria vítima, além do mais, destrói a consciência dos cidadãos brasileiros sobre a questão racial. Esse maldito, o racismo, é quase um ser vivo, pensante, vil e maleficamente inteligente. Desenvolveu formas inimagináveis de atualizar-se e continua construindo a lógica de suas senzalas e pelourinhos no quartinho da empregada, no subemprego, na sub habitação, no dito moreno destruindo, pelo embranquecimento, a natureza bela do NEGRO.        Mas esse mal não foi criado por nós. Tem suas origens em nosso passado colonial, no eurocentrismo, nas teorias criadas para legitimar a coisificação de homens, mulheres, crianças, comunidades inteiras, escravizadas, humilhadas, desumanizadas, mas não destruídas.
Nos séculos XVIII e XIX, não havia dúvida quanto a hierarquização social que devia traçar uma linha de escala intelectual que começava com os brancos europeus, os indígenas abaixo dos brancos e os negros abaixo de todos os outros. No livro “A Escala Unilinear das Raças Humanas e Seus Parentes Inferiores”, de Nott e Gliddon (1868), há comparações feitas em imagens com crânios de negros “falsamente” alargados para se parecerem  com os de chimpanzés, enquanto os crânios dos brancos são considerados “normais”. É o Darwinismo social servido como base para o Racismo científico. Assim, aliado ao avanço imperialista deste período histórico, as população do continente Africano estavam a mercê da Europa e sua fome por matéria prima, mão de obra e mercado consumidor. Frantz Fanon, influente pensador do século XX sobre os temas da descolonização e da psicopatologia da colonização, escreve em seu livro intitulado “ Pele negra mascara branca” que o local onde se dá a dominação dos povos escravizados não é nos corpos e sim nas suas mentes. Desta maneira, seguiram as desvalorizações, desconstruções, desqualificações, desumanizações, destituições de tudo referente ao africano, ou melhor, aos inúmeros povos africanos. Mas não destruição. Porque? Por que a algo de permanente no negro, na África. Uma magnífica força que se obstina a resistir.
Resistindo reconstruíram através de seus corpos e suas memórias uma nova áfrica aqui do outro lado do Atlântico, nas fazendas, nos túneis, nas senzalas, matas, morros, portos e cidades. Afinal tudo que precisavam estava em seus corações.
O homem negro não quis a escravidão. Dentro dela, entretanto, não se tornou mero fantoche nas mãos de seus senhores. Os escravizados portavam lógicas individuais, coletivas e ativas de resposta ao cativeiro. Isso é RESISTIR! É isso que significa a religião de matriz africana, a capoeira, o samba de roda, o quilombo vivo. RESISTÊNCIA! Resistência contra o processo de demonização, da associação de tudo que é africano, negro, ao mal. Resistência contra a negação de sua identidade, de sua cultura, seus cabelos, suas faces, seus corpos. Resistência contra as violências físicas e psicológicas. Resistência contra a matança dos jovens negros. Resistir, combater, lutar contra a retirada de toda e qualquer ferramenta que garanta a possibilidade de ascensão social. Negação do ser, do ter, do existir. Não existe nada de mal nas religiões de matriz africana. Não existe nada de profano no belo, no terno, no diferente. Não existe o mal em uma oferenda, constituída do mais puro entre os ingredientes, a sua ancestralidade. Não existe o mal no Orí (guia) que orienta o xá (consciência). Não existe o mal nos tambores D’africa, como também não existe nada de mal na ginga, no canto, no toque, na luta e na dança.. E como são lindos os cachos volumosos que emolduram rostos tão belos que enfeitam essa ciranda. Competem com a beleza de ébano que atrai olhares e pensares.  Acrescenta-se então a genética que permite retardar a ação do tempo no organismo, força e forma física diferenciada. Tudo isso é ser exuberante, atraente, sobretudo inteligente. Afinal resistir é um jogo de xadrez. Tudo isso é ser negro.
Mas o mal existe e persiste no terreno fértil da falta do conhecimento e da intolerância. Como podemos ter uma opinião tão formada acerca de algo que nada sabemos? Como posso formar conceitos tão profundos sobre o firme alicerce epistemológico do que foi dito referente ao que foi dito? Tão estranho isso!

No entanto, eu vejo um lindo e novo horizonte surgindo. Não só leis, sobretudo, iniciativas como a que ocorreu no ultimo dia 15 de novembro no auditório do Colégio Modelo Luiz Eduardo Magalhães na cidade de Itapetinga-Ba. Ocasião que foi realizado o I encontro de povos de religião de matriz africana da cidade, onde se reuniram representações dos povos do candomblé, da umbanda, da capoeira, evangélicos, católicos, comunidade acadêmica, simpatizantes e todos sob uma mesma bandeira, a nobre flâmula da PAZ! Essa experiência reforçou minha convicção na pureza humana. No divino que existe em nós. Ninguém nasce odiando, isso é ensinado. Nossa natureza é o AMOR. Somos, todos, partes de um único ser e estamos, todos, no mesmo caminho. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor. Cor 13:13


quarta-feira, 4 de julho de 2012

Homenagem aos Herois de Itapetinga.




Autor: Prof. Historiador Tales Pita
Feliz o povo que glorifica seus heróis. Itapetinga hoje, dia 06 de julho de 2012, com a inauguração deste belíssimo monumento, presta justa homenagem aos nossos bravos combatentes da paz, arautos da liberdade, paladinos da democracia. São eles: Antônio Almeida Pinto, Antônio Garcia Rosa, Carlos Humberto Gusmão, Hélvio Bonfim de oliveira, Manuel Alves do Nascimento Filho, Manuel dos Santos Pita, Octávio Lacerda Rolim, Pedro Soares Sampaio, Raimundo Rodrigues, Rosalvo Cipriano de Sousa, Vir Angélico Pereira e Agenor Pereira. Todos perseguidos políticos durante o período da ditadura militar, que mesmo sofrendo todas as privações, violências e opressões traumatizantes do cárcere, mantiveram firmes seus ideias de lealdade e companheirismo, típicos dos que lutam pelo que acreditam. Pessoas como eu e você que, no entanto, colocaram suas vidas e almas a serviço da construção de um Brasil livre, justo e soberano.
Em especial saudamos a memória do jovem guerrilheiro da justiça Rosalindo de Souza. Itapetinguense de coração, levou até as últimas consequências, todo seu ardoroso amor pelo povo brasileiro. Cansado dos desmandos ditatórias, muito comuns naquele momento histórico, Mundico, como era conhecido pelos companheiros de armas, juntou-se em 1971 ao grupo de bravos que compunham a resistência armada contra a ditadura militar, conhecida como guerrilheiros do Araguaia. Lá, integrou-se ao destacamento C sendo astuto cumpridor de missões, havendo até relatos de extrema bravura nos embates, contra as forças do exército em que participou. Rosalindo acreditava num País livre e igual, sem opressão e violência e deixou para nós o exemplo claro a seguir. É preferível morrer de pé do que viver de joelhos.
O grupo amigos da praça compostos pelos senhores Eduardo Fiscina, Sergio Ricardo, Nilton Barbosa, Oswaldo Barbosa, Sizinho Neto, Sergio Gomes,  Valdeike Oliveira e Tales Pita tem a honra, com profunda gratidão e orgulho, de prestar justas congratulações aos familiares e ao povo itapetinguense inaugurando a obra homenagens aos mortos e desaparecidos Políticos da Bahia.


terça-feira, 5 de junho de 2012

O Brasil na primeira guerra.

Aviadores brasileiros que participaram da I guerra mundial
          Autor: Prof. Tales Cardoso Pita
       Um dos assuntos que sou realmente fascinado na história contemporânea, ou pós-moderna como acharem melhor, é a primeira metade do século XX. A escalada armamentista, o imperialismo assombroso, o vertiginoso desenvolvimento tecnológico e, por que não, cultural. Esses dias em debate com alunos em sala de aula notei que pouco sabiam da participação brasileira na primeira metade da grande guerra. Digo isso pois sabemos que foi uma guerra só com um intervalo de 10 anos no meio. O clima era bélico e as hostilidades não haviam cessado. Poucos sabem, inclusive historiadores, que a participação do Brasil na Primeira Guerra só aconteceu três anos depois de seu início, mais precisamente em outubro de 1917 quando declarou guerra à Alemanha por torpedear o vapor Paraná, o navio Tijuca e o cargueiro Macau. Sua participação foi somente fornecer médicos, aviadores para a Europa, alimentos e matérias-primas para a Tríplice Entente (Inglaterra, França e Rússia).
           A marinha brasileira também foi participante da guerra, policiavam o oceano Atlântico e neste policiamento foram contagiados pela gripe espanhola fazendo com que 176 marinheiros viessem a falecer. As mortes brasileiras durante a Primeira Guerra mundial se resumem a estes tripulantes que foram vítimas desse vírus.
        Ao final da guerra, o Brasil participou da Conferência de Paz que resultou no Tratado de Versalhes em 1919 onde o país conseguiu ficar com os navios alemães aprisionados e ainda conseguiram a liberação dos depósitos bancários, feitos em 1914 com a venda de café, que estavam retidos na Alemanha.No final foi uma boa aventura para os militares e seus anceios de afirmação. É isso e até mais.

domingo, 20 de maio de 2012

A escola representa, na vida das crianças, um obstáculo a ser vencido e um local que facilitará sua vida social



Autor: Professor Historiador Tales Cardoso Pita
O objetivo da escola é formar o cidadão, isto é, construir conhecimentos, atitudes e valores que tornem o estudante solidário, crítico, ético e participativo. Para isso, é indispensável socializar o saber sistematizado, historicamente acumulado, como patrimônio universal da humanidade, fazendo com que esse saber seja criticamente apropriado pelos estudantes, que já trazem consigo o saber popular, o saber da comunidade em que vivem e atuam. Diante desta perspectiva o educando deve ser direcionado aos conceitos do senso comum ao mesmo tempo que produz, e deve produzir, criticidade.
 
Isso nos leva a refletir sobre este processo, uma vez que o desenvolvimento e a
aprendizagem das crianças precisam de tempo e espaço para acontecer. Tempo porque sua realização não é fácil nem imediata. Supõe entregar-se e confiar em uma possibilidade, em algo que, ocorrendo hoje (refiro-me às atividades do dia-a-dia que favorecem a aprendizagem da leitura e da escrita), só se confirmará pouco a pouco no encanto de se sentir leitor ou escritor. Espaço porque supõe coordenar pontos de vista, prestar atenção a muitos detalhes,
criar novas possibilidades, reorganizar a vida e, quem sabe, melhorar ou aprofundar as estruturas (cognitivas, afetivas, sociais, etc.) que lhes dão sustentação. Mais do que isso, tornar-se alfabetizado é confiar em uma proposta que se faz ao aluno, é admirar em seu proponente suas habilidades de leitura e escrita, é querer tornar-se como ele. Só se pode valorizar algo que não é ,ou seja, admirar algo que quero ter e não tenho, (refiro-me a um aluno não-alfabetizado) pela admiração e pela vontade de ser como aqueles que dominam tal habilidade e que querem ensiná-la. È necessário o vínculo dialógico.
 
Reflitamos que uma criança não precisa da escola para ser criança. Nessa perspectiva, ser aluno é apenas uma de suas possibilidades e necessidades. Uma criança também é filho, tem irmãos, amigos, brinca, vive o cotidiano de sua casa, de sua rua, de sua cultura ou de sua religião. Elas são a garantia de nosso futuro, quem sabe para melhor. Assim, se seu presente não for favorável a isso, toda a humanidade ficará ameaçada. As crianças são nossos “pais”.
 
Todo adulto começou sendo criança. Um adulto é uma criança que sobreviveu, que enfrentou e superou os desafios, as dificuldades, as doenças, o medo do desconhecido. É claro que ela contou (contou?) com a ajuda dos adultos, com seus conhecimentos e recursos, com suas instituições, com seu amor e seus cuidados. Uma criança que nasce é a humanidade que tem nova chance de rever seus valores, suas práticas, suas formas de vida ou, ao contrário, de repetir sua insensatez, seus interesses mesquinhos, sua desigualdade.
 
É difícil a tarefa de não perder a criança na escola, que agora é reduzida ao papel compulsório de aluno. Uma criança sem tempo e sem espaço para ser criança. Será que os alunos só podem encontrar seu lado criança, ou melhor, compensar a falta que isso lhes faz nas brincadeiras desautorizadas, na violência, na agressividade, no fracasso escolar? Poderá a escola, uma instituição que representa e expressa os interesses dos adultos sobre aquilo que
eles querem que os alunos se tornem, também defender a perspectiva das crianças que nela estudam? Saberá articular esses interesses com o que é compulsório para as crianças, porque as qualifica para uma vida melhor? Saberá garantir condições para que as crianças possam ser apenas crianças, isto é, para que vivam os interesses, as possibilidades desse período de
desenvolvimento? Ser aluno, tornar-se criança: poderá a escola cumprir tal missão? Todas estas proposições são objetos da pesquisa e desafios para a psicologia da educação.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Crônica: Viver a violência é normal?

 Autor: Professor historiador Tales Cardoso Pita
Esta semana pasmei ao ver num destes programas jornalísticos, que usa a violência como produto macabro, com mais uma destas tantas manchetes de assassinato violento por conta das drogas. Ora, sou educador já faz um tempo, este estado de coisas não é muita novidade nos grandes centros urbanos. Pois é, nos grandes centros urbanos. Estamos contemplando um fenômeno preocupante para os moradores de cidades pequenas: o crescimento descabido e sufocante da violência. Bate em nossa porta! Assaltos, homicídios, furtos, estupros, agressões gratuitas, pornografia, pedofilia, entre outras ações estão se tornando rotina em cidades antes tranquilas. A que se deve? Eu me pergunto.
Talvez a falta de uma política pública profilática de segurança. Outros mais céticos apostam na falta de rotinas governamentais de assistência e desenvolvimento social. Será o aumento de
fatores como o desemprego? Penso, penso.
Na verdade, acho que é tudo isso! Mas o caldo fica mais grosso ao acrescentar o crescimento vertiginoso do estado de incredulidade, quase que inexistência da educação voltada para manutenção da honra, da dignidade humana, de valores simples como respeito, e por ai vai. As crianças e jovens ficam à mercê de oportunistas capitalistas que aguardam sagazmente a hora de usurpar-lhes a alma. A propósito o preço desta caiu bastante, observo horrorizado crianças, 10 a 12 anos, a venda pelo valor de 10 reais nos botecos pérfidos das antes pacatas cidades. O que nos preocupa é que a tendência converge para o aumento desse fator. Em breve nossas casas em cidades pequenas serão “fortalezas” urbanas, qual cidades grandes. Onde é forçoso concluir que não é só aqui, é no mundo.
Foi quando fui convidado para ver o filme Chico Xavier, exibido no centro espírita servos do senhor, e fiquei chocado diante de meu egoismo. A vida daquele ser humano cuja simplicidade e altruismo gritavam sua autoridade moral, falou-me a resposta a todas essas questões. Eis que a resposta é: A humanidade está em crise de abstinência de amor.  Você sabe o que é isso? AMOR!
 Não amiga ou amigo, não encontro na central, no mercadinho, no Rondelly ou na internet. “Não pode ser comprado”. Concluo que a humanidade em geral não aprendeu ainda a Amar. É amada, velada e amparada mas não da vida ao verbo amor. 
Calma! Você agora esta pensando – Lá vem ele com papo de religião. Mas é isso mesmo! Toda fórmula materialista que nos trouxe até aqui retira a religação com o divino do hall de ingredientes essenciais para felicidade do homem. Chegamos ao ponto de um celular, um pino de droga ou um gole de cerveja, ser mais realizador que uma catarse religiosa. 
Resultado: está tudo errado!
A humanidade precisa muito mais de apertos de mãos do que status social, muito mais de abraços do que de banquetes e festas de camisa, muito mais de beijos sinceros do que de drogas e da fortuna alienadoras. Agora lembro o velho Paulo falando aos coríntios que, ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria 
(cor 13:2).
Bacana não é!
Gosto desse moço, gosto de Chico, de madre Tereza, de São Felix e tantos outros que amam anonimamente.Como seria bom se fossemos um pouquinho parecidos com eles. Sem falar do grande mestre, Jesus.
Tenho certeza que chegaremos lá. Queria que fosse logo para não ter que testemunhar ainda mais sofrimento e desilusão. Tenho certeza que tudo vai mudar. 
Paciência!
 Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor (cor 13:13).

O papel da educação no mundo globalizado.


 Autor: Professor historiador Tales Cardoso Pita
O que é a globalização? Analisando o próprio processo, sem incluir na definição suas consequências, ou um julgamento de valor, a globalização é a crescente integração das economias e das sociedades no mundo, devido aos fluxos maiores de bens, de serviços, de capital, de tecnologia e de ideias. Trata-se, antes de tudo, de um fenômeno econômico.
A globalização é definida em primeiro lugar pela abertura das fronteiras. Essa é negociada na Organização Mundial do Comércio (OMC), onde um país pode propor diminuir ou até suprimir as suas taxas de importação se os demais consintam iguais esforços ou ofereçam compensações em outro domínio.
Essa abertura leva à diminuição do peso da ação do Estado. O recuo deste é a consequência de três processos: a nova valorização do local, já analisada, a abertura das fronteiras no quadro da globalização e a constituição de blocos regionais, como a União Europeia, o NAFTA (Canadá, México, Estados Unidos), o Mercosul, o Pacto Andino, a APEC (Ásia – Pacífico). Mas então qual é a relação de tudo isso com a escola?
Até agora, a própria globalização teve poucos efeitos sobre a escola. Surtiram efeitos, sobretudo, as novas lógicas da década de 80 e a progressão ideológica do neoliberalismo. Entretanto, a globalização produziu alguns efeitos dramáticos nos países do sul, através do FMI e do Banco Mundial.
O neoliberalismo está progredindo na área da educação, como evidenciado por vários fenômenos. Nos Estados Unidos, está sendo desenvolvido um dispositivo de permissões financeiras. Alguns Estados locais, ou distritos escolares, já não financiam a escola, dão um voucher (cheque, passe, “vale”) aos pais, que o usam para pagar a escola, seja ela particular ou pública. O Banco Mundial já se disse interessado por esse dispositivo. Também nos Estados Unidos, já existem empresas de gerenciamento das escolas públicas. Empresas privadas são contratadas pelos Estados para dirigir escolas públicas, com a ideia de melhorar a eficácia das escolas. Desenvolvem-se, ainda, em vários países, redes de escolas particulares. Assim, no Brasil, as pessoas da classe média escolarizam os seus filhos em escolas particulares. Os filhos de professores das escolas públicas não vão para escolas públicas, vão para escolas particulares. Estas baseiam a sua publicidade nos resultados do vestibular, concurso para entrar na universidade. Divulgados os resultados, vêm-se faixas penduradas na entrada de certos prédios, felicitando Fulano que entrou na universidade, com indicação, está claro, da escola em que estudou. Já existe no Brasil, e em outros países, um verdadeiro mercado da educação.
Fica claro, que o desenrolar deste processo, mantidas as condições, certamente ocorrerá com o aumento da ação da iniciativa privada, da concorrência acirrada, da briga por este novo nicho econômico promissor e naturalmente excludente, no processo educacional. Um processo anunciado e iniciado também no Brasil. Verifica-se o grande aumento das tecnologias relacionadas a internet implementadas no dia-a-dia do alunado como; tablets, notebooks, celulares com tecnologia 3g, etc. Situação que impossibilita o estado de manter um padrão processual de acordo com as exigências provenientes desta nova realidade sócio, econômica, desaguando numa gradual e contínua ação do capital empresarial no sistema educacional.
            Será que imitaremos as realidades exteriores, como foi feito até agora – uma vez que nosso padrão educacional é formatado no modelo Francês – ou inovaremos com políticas que acompanhem os ditames econômicos, mas sobretudo pautados na realidade processual e justa de políticas afirmativas em nosso país.
O fenômeno humano ensino/ aprendizagem sempre ocorreu, nas formas e moldes diversos atendendo a demanda temporal, social, econômica. O que se questiona, sobretudo nós educadores, é aonde estes novos rumos da educação irão nos levar. Num mundo mais justo, igualitário, com valores e virtudes exaltados. Um mundo onde a tecnologia seja ferramenta e não uma finalidade ou estaremos migrando para um período obscuro, individual, de competição descabida e pouco ética. Um mundo desvalido pelo valor do capital e que valoriza a destruição em nome do desenvolvimento. O fato, é que a educação caminha, e o caminho será definido pela ação do protagonista de todos os eventos humanos. Homens, mulheres, crianças de todas as nações são conclamados para refletir a questão. Transformar a educação em moldes sustentáveis é mais que uma tarefa urgente é questão de sobrevivência de tudo que conhecemos como vida.